sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Retrospectiva 2010

Foi um ano cheio de novas experiências. Algumas gratas surpresas, algumas confirmações de qualidade e outras poucas decepções.

Costumo dizer que o vinho bom é aquele que gostamos.  Conforme vamos ganhando maturidade com os vinhos, nosso gosto muda, ficamos mais exigentes.

sábado, 24 de julho de 2010

Interpretando o Sommelier (2) – Vinhos da Argentina e Chile

Para aqueles que preferem os vinhos tintos secos argentinos e chilenos, busquem algumas palavras chaves nas descrições feitas pelo sommelier.


Os vinhos argentinos e chilenos estão dentro da classe dos vinhos do novo mundo. Estes vinhos têm como diferencial a sua personalidade forte, isto é, tem características táteis e aromas primários mais marcantes e, portanto é na boca que o vinho mostra a sua especificidade.

São vinhos geralmente redondos (que não tem excesso de acidez - você percebe nas laterais da língua, se você salivar pouco é porque o vinho é pouco ácido) e que a sensação é de encher a boca. Então, as descrições destes vinhos terão, em geral, as seguintes palavras chaves: encorpado, carnudo, oleoso, volumoso, untuoso. Estas características são percebidas dentro da boca, dão uma sensação de um líquido mais viscoso.

Também são um pouco doce, adocicado (bem pouquinho), mas não são vinhos suaves (classificação para os vinhos doces). Esta sensação vem do tipo dos taninos e do volume de álcool, já que em geral as uvas são colhidas mais tarde. Para lembrar: sentimos o doce na ponta da língua.

Outra característica é a graduação alcoólica maior que a do velho mundo. (13-14% x 12%). Vocês irão perceber o álcool no fundo da garganta, quanto mais álcool, mais esquenta a garganta.

São potentes no aroma e encorpados na boca. Abusam da madeira, sentimos baunilha, café, tostado.
São vinhos pouco transparentes, de aspecto cristalino (não são turvos). A cor destes vinhos é de um vermelho mais escuro, alguns perto do negro.

Então resumindo, as palavras chaves para quem gosta do estilo argentino / chileno:

  • Visual: vermelho escuro
  • Olfato: frutas vermelhas, madeira
  • Gustativo: encorpado

domingo, 4 de julho de 2010

Qualidade do Vinho

Jabulaniiiiii.....

Pelo jeito a bola da Copa do Mundo não está enganando somente os goleiros. A maioria das seleções candidatas ao título está fora da Copa, contrariando boa parte das previsões de especialistas.

Pois é, fazer previsões tem sempre seu grau de risco. Previsões servem como um guia, nunca como uma determinação. A influência de múltiplos fatores ou critérios dificulta a avaliação para se determinar uma tendência e portanto se fazer uma previsão precisa (dentro de uma variação mínima).

Da mesma forma é o vinho. A qualidade de um vinho depende de N fatores, tais como: temperatura, chuvas, vento, sol, solo, a parreira, o método de fabricação e outras técnicas de plantio e colheita, o barril, tempo de envelhecimento. Dizem os especialistas em vinho que encontram-se diferenças fundamentais em vinhos produzidos em encostas diferentes da mesma colina. Essas diferenças são devidas à ensolação, ao vento entre outros fatores, pois de um lado da colina o sol bate de manhã e do outro à tarde. Da mesma forma o vento, de um lado bate o vento continental e do outro o vento marítimo (por exemplo).

Eu coloquei um link aqui no meu blog que leva para ao quadro de safras de Robert Parker. Tabelas deste tipo tentam fazer uma previsão da qualidade do vinho de uma determinada região considerando as condições climáticas durante o ciclo anual da uva.

Não deixa de ser um dos parâmetros para se avaliar se um vinho (produtor, região, ano e uva) teve as condições ideais climáticas naquele ano e portanto ter uma noção da qualidade. No novo mundo, como a maioria dos vinhos é do tipo varietal (de uma só uva) e cada uva tem um ciclo diferente da outra, em um determinado ano um tipo de uva pode ser mais favorecida que outro. Por exemplo: a uva Cabernet Sauvignon necessita amadurecer mais na parreira do que outras uvas tintas e assim na época da colheita o dia que chover pode influenciar negativamente um varietal e não outro. O velho mundo é muito mais sensível ao terroir do que simplesmente á variedade da uva, mas da mesma forma o corte utilizado por um produtor pode ter mais influência negativa das condições climáticas do que outro produtor da mesma região.

Este quadro é interessante para se fazer uma análise horizontal, é isto, vinhos de um mesmo ano de vários produtores da mesma região. Escolha um que mais lhe agradou e busque vinhos deste produtor de anos diferentes (chamada análise vertical). E ai compare com a tabela e tire suas conclusões. Faça o mesmo para outros vinhos desta região. Depois de outras regiões e assim por diante.

Tenho certeza que você não vai conseguir acabar esta análise nas suas próximas 10 encarnações.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Época de Copa do Mundo, vinhos da África do Sul

Como é época de Copa do Mundo, outro dia fizemos uma degustação com vinhos da África do Sul.


Primeiro fui ler um pouco a respeito da vitivinicultura por lá e encontrei algumas coisas interessantes:

• A África do Sul é o país do chamado Novo Mundo que produz vinhos há mais tempo.

• Os vinhos sulafricanos são os que, dos produzidos no novo mundo, se assemelham mais aos vinhos do velho mundo.

• A uva emblemática é a Pinotage, uma mistura genética da Pinot Noir com a Cinsault ou Hermitage (essa eu já sabia).

• As principais uvas cultivadas são Cabernet Sauvignon, Syrah e Pinotage.

Sabendo isso, já criei minhas expectativas:

- “se assemelham ao velho mundo”: vou encontrar vinhos de médio corpo e equilibrados, corte do estilo Bordeaux (lá também produzem Merlot e Cabernet Franc) e maior complexidade nos aromas, apesar de sutis.

Compramos 2 vinhos e um terceiro foi doado por um confrade:

- Avondale Pinotage

- Porcupine Ridge Syrah

- The Chocolate Block (corte de Grenache, Syrah, CS, Cinsault e a branca Viognier)



E para depois da degustação (e encher a cara):

- Out of Africa CS

- Nederber Twenty 10 CS ( o vinho oficial da Copa)

A Pinotage comprovou que produz um vinho mais leve, claro. Este vinho estava redondo (equilibrado), nada a mais, nada a menos. Em relação a aromas, não tinha nada muito diferente, bem frutado (frutas vermelhas).

A Syrah já é uma uva mais encorpada do que a Pinotage. Este vinho tinha um leve amargor no final, mas muito aceitável. Realmente se assemelha aos franceses de Syrah do norte do Ródano (Côtes du Rhône).

Por último, um vinho mais complexo. O corte é parecido com o de Châteauneuf-du-Pape, que tem a Grenache como principal uva mas um corte de várias uvas. Tinha um boquet mais intenso e também se mostrou bem equilibrado.

Leiam meu artigo comparando Novo e Velho Mundo que, ao final, falo para vocês fazerem comparações para criarem suas opiniões. Aqui temos uma ótima comparação: 1) Syrah da África do Sul com vinhos de Croze-Hermitage (mais baratos), de Hermitage ou Cornas (bem, mas bem mais caros). 2) o the Chocolate Block com um Châteauneuf-du-Pape (que também não são baratos...)

Abraços



sábado, 19 de junho de 2010

Interpretando o Sommelier

Certa vez em um restaurante, o sommerlier deixou a carta de Vinhos com um cliente. Quando voltou para perguntar o que queriam, o cliente respondeu: um dicionário.

A linguagem utilizada por um sommerlier nem sempre é trivial. Quem lê a descrição das propriedades organolépticas (veja como é dificil acompanhar o que esses caram falam.... dá uma olhada no wikipedia para saber o que é isso!!!) de um vinho feita por um profissional pode não entender tudo e até confundir alguns conceitos e termos.

O sommerlier (ou escanção em Portugal) é o profissional que estuda e conhece vinhos e sua harmonização com comida. É quem faz a descrição com as características do vinho, geralmente aparência, aroma e paladar.

Algumas descrições são mais técnicas e outras mais poéticas, e, portanto, a impressão de cada sommerlier com um determinado vinho pode ser diferente. Procura-se através de associações e entidades ter uma linguagem em comum utilizando-se termos com o mesmo significado.

Por exemplo:

  • Vinho suave é um vinho doce, enquanto o vinho com pouco corpo e álcool é considerado leve. Em alguns rótulos, o vinho levemente doce é denominado demi-sec.
  • Um vinho elegante é um vinho equilibrado e sóbrio, entenderam? Se não, tente agora com esta descrição: um vinho equilibrado é aquele que apresenta de forma harmoniosa taninos, acidez e álcool. Sóbrio é o vinho que não tem expressão exagerada.

Então, quando eu leio a descrição do vinho e vejo lá a expressão “elegante” já faço a analogia com um lord inglês: alinhado, bem vestido, boa aparência, mas sem nenhuma expressão, “sem sal”. Nada a mais e nada a menos... talvez tudo a menos.....

Em relação aos aromas: frutas vermelhas, chocolate, baunilha, couro são alguns dos exemplos que aparecem nas descrições. Uma vez, em uma degustação, o sommerlier usou a expressão sous-bois que significa bosque, mato molhado. Será que cheirar vinho também causa alucinações?

Aroma é algo que a maioria das pessoas não tem muita capacidade em diferenciar. Eu prefiro avaliar os aromas do vinho com algumas classes que são mais fáceis de identificar como: frutado (vermelhas para o tinto e frescas para o branco); floral (geralmente só para o branco); de especiarias; vegetal; animal; tostados; madeira; adocicados; químicos; etc....

Na boca, a análise é dos sentidos táteis. Percebemos o corpo, a adstringência (derivado dos taninos, a percepção de banana verde) e o álcool (note se sua garganta esquenta). Ainda temos as 4 áreas da língua que percebem o doce (na ponta da língua), o ácido (nas laterais), o amargo (no fim da língua) e o salgado (no centro da língua). É devido a estas divisões da língua que vocês vêem os sommerliers circulando o vinho pela boca, é assim que ele faz a análise.

Vocês já perceberam, com poucos conceitos entre muitos utilizados na enologia, a complexidade em descrever as características do vinho. E principalmente fazer esta descrição ser entendida por amadores.

O importante é você conseguir identificar quais características do vinho que você gosta ou não gosta e ai lendo a descrição conseguir escolher o vinho que lhe agrada. Vou tentar em um próximo artigo fazer uma relação entre o perfil do apreciador de vinhos com as descrições feitas pelos sommerliers.

domingo, 13 de junho de 2010

Velho x Novo Mundo

Esta é uma discussão muito frequente nos grupos que participo. Escuto opiniões das mais variadas, os que amam vinhos do velho mundo e os que preferem os do novo mundo. O que noto é que a experiência do momento de tomar um vinho marca muito as preferências nesta área.
Também o que pesa nesta preferência é se "entendemos" o vinho que estamos tomando. Vocês já notaram que quando alguém explica como é feito aquele vinho, suas origens, as técnicas utilizadas, a tradição que está por trás daquela garrafa, o vinho se transforma?

Como o momento de tomar um vinho é único e não se pode reproduzir a qualquer instante, podemos então entender os vinhos do velho e do novo mundo para que possamos comparar. Como nós brasileiros estamos mais acostumados aos vinhos do novo mundo, entendemos menos o estilo dos vinhos do velho mundo. Também na comparação de preços, os vinhos do velho mundo levam desvantagem devido à logística, às questões fiscais e até por politíca de posicionamento de mercado.
Fiz um quadro comparativo com informações que pesquisei, que não tem a pretensão de resumir um assunto tão complexo, mas serve para um início de entendimento desta grande polêmica:

Faça a sua própria comparação agora na taça. Compare vinhos velho com o novo mundo da mesma uva, do mesmo preço, com o mesmo corte. Compare harmonizando com pratos. Tenho certeza que você vai sentir estas diferenças e ai sim poderá ter um quadro comparativo próprio.

Minha sugestão é que procurem ler a respeito do vinho que estão tomando. Conhecer o vinho, a vinicola, a região, as uvas com certeza irá mudar a experiência de tomar aquele vinho.

Eu estou tentando entender melhor os vinhos europeus. Acho que estou conseguindo compreendê-los e já tenho algumas boas dicas... que fica para um outro momento....

Beijos