segunda-feira, 28 de junho de 2010

Época de Copa do Mundo, vinhos da África do Sul

Como é época de Copa do Mundo, outro dia fizemos uma degustação com vinhos da África do Sul.


Primeiro fui ler um pouco a respeito da vitivinicultura por lá e encontrei algumas coisas interessantes:

• A África do Sul é o país do chamado Novo Mundo que produz vinhos há mais tempo.

• Os vinhos sulafricanos são os que, dos produzidos no novo mundo, se assemelham mais aos vinhos do velho mundo.

• A uva emblemática é a Pinotage, uma mistura genética da Pinot Noir com a Cinsault ou Hermitage (essa eu já sabia).

• As principais uvas cultivadas são Cabernet Sauvignon, Syrah e Pinotage.

Sabendo isso, já criei minhas expectativas:

- “se assemelham ao velho mundo”: vou encontrar vinhos de médio corpo e equilibrados, corte do estilo Bordeaux (lá também produzem Merlot e Cabernet Franc) e maior complexidade nos aromas, apesar de sutis.

Compramos 2 vinhos e um terceiro foi doado por um confrade:

- Avondale Pinotage

- Porcupine Ridge Syrah

- The Chocolate Block (corte de Grenache, Syrah, CS, Cinsault e a branca Viognier)



E para depois da degustação (e encher a cara):

- Out of Africa CS

- Nederber Twenty 10 CS ( o vinho oficial da Copa)

A Pinotage comprovou que produz um vinho mais leve, claro. Este vinho estava redondo (equilibrado), nada a mais, nada a menos. Em relação a aromas, não tinha nada muito diferente, bem frutado (frutas vermelhas).

A Syrah já é uma uva mais encorpada do que a Pinotage. Este vinho tinha um leve amargor no final, mas muito aceitável. Realmente se assemelha aos franceses de Syrah do norte do Ródano (Côtes du Rhône).

Por último, um vinho mais complexo. O corte é parecido com o de Châteauneuf-du-Pape, que tem a Grenache como principal uva mas um corte de várias uvas. Tinha um boquet mais intenso e também se mostrou bem equilibrado.

Leiam meu artigo comparando Novo e Velho Mundo que, ao final, falo para vocês fazerem comparações para criarem suas opiniões. Aqui temos uma ótima comparação: 1) Syrah da África do Sul com vinhos de Croze-Hermitage (mais baratos), de Hermitage ou Cornas (bem, mas bem mais caros). 2) o the Chocolate Block com um Châteauneuf-du-Pape (que também não são baratos...)

Abraços



sábado, 19 de junho de 2010

Interpretando o Sommelier

Certa vez em um restaurante, o sommerlier deixou a carta de Vinhos com um cliente. Quando voltou para perguntar o que queriam, o cliente respondeu: um dicionário.

A linguagem utilizada por um sommerlier nem sempre é trivial. Quem lê a descrição das propriedades organolépticas (veja como é dificil acompanhar o que esses caram falam.... dá uma olhada no wikipedia para saber o que é isso!!!) de um vinho feita por um profissional pode não entender tudo e até confundir alguns conceitos e termos.

O sommerlier (ou escanção em Portugal) é o profissional que estuda e conhece vinhos e sua harmonização com comida. É quem faz a descrição com as características do vinho, geralmente aparência, aroma e paladar.

Algumas descrições são mais técnicas e outras mais poéticas, e, portanto, a impressão de cada sommerlier com um determinado vinho pode ser diferente. Procura-se através de associações e entidades ter uma linguagem em comum utilizando-se termos com o mesmo significado.

Por exemplo:

  • Vinho suave é um vinho doce, enquanto o vinho com pouco corpo e álcool é considerado leve. Em alguns rótulos, o vinho levemente doce é denominado demi-sec.
  • Um vinho elegante é um vinho equilibrado e sóbrio, entenderam? Se não, tente agora com esta descrição: um vinho equilibrado é aquele que apresenta de forma harmoniosa taninos, acidez e álcool. Sóbrio é o vinho que não tem expressão exagerada.

Então, quando eu leio a descrição do vinho e vejo lá a expressão “elegante” já faço a analogia com um lord inglês: alinhado, bem vestido, boa aparência, mas sem nenhuma expressão, “sem sal”. Nada a mais e nada a menos... talvez tudo a menos.....

Em relação aos aromas: frutas vermelhas, chocolate, baunilha, couro são alguns dos exemplos que aparecem nas descrições. Uma vez, em uma degustação, o sommerlier usou a expressão sous-bois que significa bosque, mato molhado. Será que cheirar vinho também causa alucinações?

Aroma é algo que a maioria das pessoas não tem muita capacidade em diferenciar. Eu prefiro avaliar os aromas do vinho com algumas classes que são mais fáceis de identificar como: frutado (vermelhas para o tinto e frescas para o branco); floral (geralmente só para o branco); de especiarias; vegetal; animal; tostados; madeira; adocicados; químicos; etc....

Na boca, a análise é dos sentidos táteis. Percebemos o corpo, a adstringência (derivado dos taninos, a percepção de banana verde) e o álcool (note se sua garganta esquenta). Ainda temos as 4 áreas da língua que percebem o doce (na ponta da língua), o ácido (nas laterais), o amargo (no fim da língua) e o salgado (no centro da língua). É devido a estas divisões da língua que vocês vêem os sommerliers circulando o vinho pela boca, é assim que ele faz a análise.

Vocês já perceberam, com poucos conceitos entre muitos utilizados na enologia, a complexidade em descrever as características do vinho. E principalmente fazer esta descrição ser entendida por amadores.

O importante é você conseguir identificar quais características do vinho que você gosta ou não gosta e ai lendo a descrição conseguir escolher o vinho que lhe agrada. Vou tentar em um próximo artigo fazer uma relação entre o perfil do apreciador de vinhos com as descrições feitas pelos sommerliers.

domingo, 13 de junho de 2010

Velho x Novo Mundo

Esta é uma discussão muito frequente nos grupos que participo. Escuto opiniões das mais variadas, os que amam vinhos do velho mundo e os que preferem os do novo mundo. O que noto é que a experiência do momento de tomar um vinho marca muito as preferências nesta área.
Também o que pesa nesta preferência é se "entendemos" o vinho que estamos tomando. Vocês já notaram que quando alguém explica como é feito aquele vinho, suas origens, as técnicas utilizadas, a tradição que está por trás daquela garrafa, o vinho se transforma?

Como o momento de tomar um vinho é único e não se pode reproduzir a qualquer instante, podemos então entender os vinhos do velho e do novo mundo para que possamos comparar. Como nós brasileiros estamos mais acostumados aos vinhos do novo mundo, entendemos menos o estilo dos vinhos do velho mundo. Também na comparação de preços, os vinhos do velho mundo levam desvantagem devido à logística, às questões fiscais e até por politíca de posicionamento de mercado.
Fiz um quadro comparativo com informações que pesquisei, que não tem a pretensão de resumir um assunto tão complexo, mas serve para um início de entendimento desta grande polêmica:

Faça a sua própria comparação agora na taça. Compare vinhos velho com o novo mundo da mesma uva, do mesmo preço, com o mesmo corte. Compare harmonizando com pratos. Tenho certeza que você vai sentir estas diferenças e ai sim poderá ter um quadro comparativo próprio.

Minha sugestão é que procurem ler a respeito do vinho que estão tomando. Conhecer o vinho, a vinicola, a região, as uvas com certeza irá mudar a experiência de tomar aquele vinho.

Eu estou tentando entender melhor os vinhos europeus. Acho que estou conseguindo compreendê-los e já tenho algumas boas dicas... que fica para um outro momento....

Beijos