sábado, 31 de março de 2012

Corsican Nature Pinot Noir / Niellucciu 2007

Hoje o almoço foi algo simples e rápido. Foi um filet grelhado que pedimos em hamburgueria aqui perto de casa, acompanhando maionese, ovo frito e batatas fritas. Bem típico das nossas lanchonetes que servem os hamburgeres.


Um prato que, por sua simplicidade, textura da carne suculenta e a gordura da maionese, iria muito bem com vinhos que tenham elegância, corpo médio e uma boa acidez ao mesmo tempo.

Escolhi o Corsigan Nature, do Empório Sório:
Ficha Técnica:
Região: Vin de Pays de L´Île de Beauté - Corsega

Safra: 2007

Graduação alcoólica: 12,5%

Composição: 60% Pinot Noir e 40% Niellucciu

Vinificação: Maceração à frio. Fermentação à temperatura controlada. Maturação em cuba de aço inoxidável por 6 meses.

O vinho apresenta aspecto de cor rubi pouco evoluído, transparente, halo ainda pequeno. Um aroma muito franco e límpido de frutas vermelhas frescas. Na boca, elegância e equilíbrio. Um vinho muito interessante e agradável.

Acompanhou muito bem o filet grelhado e ainda fiquei bebericando por um bom tempo após a refeição. Pronto para beber.

VinhoClic

segunda-feira, 19 de março de 2012

Equívocos no Regime de Salvaguarda do vinho brasileiro

Em termos filosóficos, restrição gera restrição!!! Restringir cria um círculo vicioso: menos vinhos importados, menos opções, menos consumidores, menor mercado, menor incentivo, menos opções, menos consumidores..... No limite, a tendência é diminuir até a extinção.

Está mais do que provado nas teorias econômicas que precisa crescer o bolo para melhor dividi-lo. Expandir cria o circulo virtuoso: mais opções, mais consumidores, maior mercado, maior incentivo, mais opções, mais consumidores. No limite, a tendência é expandir até abranger a toda base de possíveis consumidores.



Portanto, este é o primeiro equívoco na implantação do Regime de Salvaguarda do vinho brasileiro.

Segundo equívoco:

Parte-se do princípio que quando o consumidor brasileiro não encontrar o vinho importado que costumava comprar, este irá substituí-lo por um vinho brasileiro. Em alguma porcentagem isto poderá ocorrer, mas na maioria o brasileiro irá substituir o vinho importado de qualidade por outro de menor qualidade.

Terceiro equívoco:

O Regime de Salvaguarda tem por objetivo proteger a indústria nacional "por um período" para que o fabricante brasileiro consiga igualar em preço e qualidade o produto estrangeiro. Isso nunca ocorrerá, pois:
a) o vinho é totalmente dependente do terroir, não há como igualar em qualidade;
b) o alto custo do vinho brasileiro não é devido a falta de produtividade, e sim pelos altos custos da cadeia toda, incluindo impostos, custo de capital, infraestrutura cara (energia, transporte), entre outros fatores (veja meu post sobre este tema: http://vinhos-por-barnes.blogspot.com.br/2012/02/precos-no-brasil-impostomargem-ou-tem.html)

Quarto equívoco:
Esta medida irá reforçar o contrabando de vinhos importados. É notório que nosso país é corrupto e que as fronteiras não são controladas adequadamente. Assim, muitos vinhos de qualidade irão entrar no país por vias "não-oficiais". Todos etiquetados com o "selo de garantia". Além de aumentar a carga de nossos queridos viajantes ao exterior que irão trazer muitas "encomendas" dos que ficam por aqui.

domingo, 4 de março de 2012

Kerubiel: um anjo de vinho mexicano

Em 2007, estive várias vezes no México a trabalho. Cheguei a passar 3 meses por lá (voltava alguns fins de semana) e pude conhecer muito da cultura mexicana, consequentemente dos seus vinhos. Aliás foi até divertido como fui apresentado aos vinhos mexicanos. Conversando sobre vinhos com um colega de trabalho, o Paco (óbvio, só poderia ser o Paco), ele me fez a pergunta: "Le gusta el vino mexicano?"... o que responder? Não tinha a mínima ideia de que o México produzia vinhos... então disse "Hay vinos mexicanos?". O Paco não ficou muito feliz, fez uma cara.... e para me provar que havia bons vinhos por lá, me pagou o jantar com vinho mexicano em um dos belos restaurantes do bairro Santa Fé!!



Um aparte: não sofri o tal mal de Montezuma como é comum aos iniciantes na comida mexicana, mas não sou um apaixonado por ela. Sempre adicionava ao meu pedido "sin picante". Mas saindo das pimentas e do maiz, há algo interessante na culinária mexicana. Lembro de um bar/restaurante com comidas ligadas às coisas do mar que, entre outros itens, oferecia um caldo de frutos do mar que bebíamos em copo (o suadouro já começava ali), e não em um prato ou cumbuca comendo com colher o que seria normal para um caldo. Também pedia sempre um polvo grelhado, de apresentação muito simples: sem a cabeça com os tentáculos chamuscados pelo calor da brasa da grelha!! Ficava meio sêco, mas eu adoro polvo.... 


Voltando aos vinhos mexicanos, tive então a oportunidade de perguntar ao meu amigo Paco: "Le gusta el vino brasileño?"... de pronto respondeu "Hay vinhos brasileños?"... Como naquela época, eu vivia somente em aeroportos, acabei comprando uma garrafa de Lidio Carrara, sempre presente nas prateleiras da loja do free shopping na saída do Brasil, para presenteá-lo.


Não lembro do vinho que tomamos naquele jantar, nem do nome do restaurante. Lembro que era "una tienda de vinos con mesas para comer", que provavelmente já deve ter mudado para "un restaurante com venta de vinos" pois o local já tinha muitas mesas, todas cheias, fora a espera. As prateleiras dos vinhos formavam todas as paredes do restaurante, inclusive servindo para separar ambientes. Um maná para nós apreciadores de vinho.


De qualquer forma, ficou a marca em mim de que havia vinhos mexicanos sim e alguns bem interessantes. Já tomei alguns mexicanos depois disso, lembro principalmente do Vino de Piedra 2007 - Ensenada, bem apreciado por lá, um excelente vinho.


Gostaria de compartilhar este último que tomei:
Kerubiel Adobe Guadalupe 2007


Adobe Guadalupe Vineyards and Inn: um local realmente para o prazer -> uma vinícola e um haras com um bed&breakfast.... Veja este vídeo de apresentação:



A música é envolvente, uma mistura de cigana e mexicana, que mostra toda a latinidade hispânica desta vinícola. A casa com o passeio central e seu chafariz me transportou para um México romântico e conquistador. E os nomes de seus vinhos não poderia exprimir melhor a cultura católica e a religiosidade fortemente incutida naquele povo.

O local parece harmonioso, as parreiras, os cachos, os trabalhadores, o trato das uvas, com anjos espalhados por todo o canto, anjos que dão nomes aos vinhos. Até as luminárias e adereços dos muros tem asas que nos lembram os seres angelicais. Por fim, não poderia faltar a Virgem de Guadalupe, a padroeira das Américas.

E dentro deste espírito religioso foi criada esta vinícola, a partir da visão da matriarca da família em uma visita a igreja de Notre Dame em Paris. Esta história não poderia ser mais mexicana, não?!

A vinícola tem como filosofia a harmonia com a natureza e a experiência única com seu vinho. Por isso, fazem vinhos multivarietais, no estilo do Vale do Ródano - França. Vejam a influência do novo mundo, principalmente da indústria vinicola da California, nesta declaração: a experiência única tem como um dos principais fatores o vinho de corte, tão comum no velho mundo.

Nem preciso dizer q este vinho, o Kerubiel, é celestial:
Castas: 31% Cinsault, 29% Syrah, 29% Mourverdre, 6% Grenache, 5% Viognier
Alcool: 13.8 %
12 meses en barrica

Coloração Rubi brilhante, mostrando boa vivacidade mesmo depois de 5 anos.
Ao nariz, não muito potente, mas com boa complexidade, aromático, madeira bem integrada, frutas vermelhas, perfume floral, couro e defumado. Conforme o tempo no copo, os aromas iam se abrindo.
Na boca, corpo médio, boa acidez, taninos redondos, um amargor agradável.
É um corte do sul do Vale do Ródano, e as impressões na degustação foram muito próximas das características dos vinhos daquela região.

Uma pena que os vinhos mexicanos são caros, mesmo lá no México. É uma barreira para o desenvolvimento da vitivinicultura mexicana, realmente uma pena pois este vinho é mais um exemplo da boa qualidade da produção vinícola daquele país.